Mineração de criptomoeda e o futuro da monetização online
Há um consenso que manter um site apenas através de publicidade (Google Adsense, Criteo e outras ad networks) é um modelo de negócio bastante difícil e mesmo players grandes com bastante tráfego, como Twitter (aqui), Folha (aqui) e o próprio Medium (aqui) tem dificuldade em fazer a conta fechar.
É uma discussão antiga a briga entre sites, usuários, anúncios abusivos e adblockers (plugins para bloquear anúncios em sites) e até hoje não existe uma resposta correta (vale a pena ouvir o Braincast sobre o assunto).
O fato é que a maioria dos usuários se incomodam com grande parte dos anúncios, resultando em mais de 500 milhões de downloads de adblockers, com esse número aumentando a cada dia que passa. Por isso, os geradores de conteúdo buscam outras formas de monetizar o seu trabalho e/ou bloquear o acesso de quem utiliza esses plugins.
O uso de paywall (barreira que restringe o acesso somente a usuários assinantes), programas de financiamento coletivo (Patreon e Padrim), Google Contributor (leia mais aqui) e conteúdo patrocinado são algumas opções, por exemplo. Porém, nenhuma delas assumiu o papel de bala de prata para todos os geradores de conteúdo.
Eis que esta semana, o Pirate Bay trouxe uma nova possível solução para o problema de monetização:
"Pirate Bay testa minerador de criptomoeda que usa seu navegador"
O portal está testando usar o navegador do visitante, enquanto o site estiver aberto, para minerar criptomoeda (Bitcoins e similares) ao invés de mostrar anúncios para o usuário. Ele pergunta se pode ser utilizado de 20% a 30% do CPU (processamento do computador) ocioso do visitante para "pagar" o conteúdo utilizado do site.
Não vamos entrar no mérito se o conteúdo do Pirate Bay é lícito ou não. O ponto chave nessa discussão é:
Utilizar a CPU do seu tráfego para minerar criptomoeda (ou outra atividade que precise do processamento ocioso) pode ser uma solução para pagar geradores de conteúdo?
Pensando como usuário: Você emprestaria o processamento do seu computador para ler notícias no site da Folha? E não ouvir comerciais enquanto usa o Spotify gratuito?
Temos que levar em conta que a percepção do usuário para um conteúdo que atualmente é "gratuito", como a Folha, será diferente da percepção num site onde ele já paga uma mensalidade, como é o Spotify. Isso pode ser um fator determinante para essa utilização.
Se você parar para pensar, há uma troca parecida quando usamos alguns serviços gratuito, como o Google Fotos (que "monetiza" através de aprendizado com seus dados) ou o ReCaptcha (que "monetiza" através de digitalização de dados), onde a percepção do usuário é sempre positiva.
De uma forma bem generalista, já trocamos nossos dados pessoais (Gmail, Facebook, Bing) por serviços. Mudar a moeda de troca por mineração (ou outros usos da CPU) é algo menos intrusivo, pois (teoricamente) não invade nossa privacidade.
A conta precisa fechar
Quanto tempo médio e quantos usuários o site vai precisar ter para esse tipo de monetização gerar lucro? Ter um site com tempo médio maior de navegação vai ser mais decisivo nesses casos?
Um site como o Spotify, onde o cliente tem uma visitação média maior, deve conseguir um retorno maior. Mas valeria a pena para sites menores, como o Google Discovery (blog sobre o Google que atualmente é mantido via Patreon), fazer essa mudança de modelo de negócio?
É necessário entender melhor a proporção de valor minerado pelo tempo de visita/quantidade de usuário e se há formas melhores de monetizar o uso ocioso da CPU do visitante. Afinal, o futuro do mercado de criptomoedas é incerto ainda.
Uma opção para o futuro
Há várias perguntas em aberto sobre esse tópico, nem se sabe se teremos alguma resposta nesse sentido ou se o projeto do Pirate Bay vai para frente. Porém, é sempre bom presenciar novas opções nascerem e assistir como tudo que conhecemos como padrão pode mudar a partir de uma ideia de um site.