Desconstruindo verdades absolutas diariamente

Ruan Teles (Kakate)
4 min readJul 6, 2015

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ou como o Snapchat mudou a minha visão sobre vídeos verticais

Logo no inicio da minha graduação, numa discussão em sala de aula sobre o Zorra Total, um professor me falou uma frase que ecoa até hoje no meu dia a dia:

“Esqueçam o ‘mundinho’ de vocês, ele não é o mundo real. Seus gostos pessoais não representam a maioria do Brasil. Vocês representam um pedaço muito pequeno do Brasil… o Brasil classe média alta, cursando faculdade, que fala inglês e com dinheiro para consumir cultura e viagens. Então, quando precisarem pensar numa estratégia com abrangência nacional, lembrem-se que a sua opinião não importa. O Zorra Total possui Share de quase 50% das televisões ligadas, é uma das maiores audiências da Globo (ps: esse discurso foi antes da queda brusca de audiência a partir de 2013), o brasileiro usa seus bordões no dia a dia e não importa que você não goste desse humor. Ele vende.”

Esse discurso quebrou a percepção daquele publicitário neófito e me fez entender que o mundo é muito maior. Trago como exemplo uma das minhas últimas desconstruções: Mc Guimé como garoto propaganda da Positivo. Pode até não ser o meu estilo musical favorito, mas tenho que concordar que foi uma ótima escolha! Encaixa no público-alvo, na mensagem, no posicionamento, nas features e é tão simples, até sinto inveja por não ter pensado em algo assim antes!

Anúncio da Positivo com o MC Guimé, sobre ‘ostentar’ com um celular com processador de 8 núcleos.

Ok, entendi, mas qual é a dos vídeos verticais?

É simples, todos sabemos que a maneira certa de filmar um vídeo é na Horizontal né? Cinema, TV, Câmeras profissionais e amadoras. Até a TV que antes tinha como padrão o 4:3, ficou mais horizontal ainda com a popularidade de TVs Leds e Plasmas. Existem até mesmo monitores e tvs ultrawide, demonstrando que cada vez mais estamos nos aproximando do Cinema e suas telas mega horizontais.

Todavia, com a popularização de celulares, um outro movimento floresceu. Filmagens não profissionais na vertical ficaram cada vez mais comuns. Quem nunca praguejou quando foi ver um vídeo no Youtube, ele estava na vertical e ficava aqueles blocos pretos maiores que o conteúdo? Criamos campanhas, reclamamos no twitter, fizemos “textões” em blogs e até mesmo vídeos:

Será que as pessoas eram tão burras assim a ponto de não entender que deveriam filmar na vertical? Será que elas não ficavam com raiva por ver um vídeo tão pequeno assim? Será… será… será…

Aí vem o Snapchat e mostra como estava cego no meu pequeno mundo:

Snapchat said the best-performing shows and ads are those that are shot vertically; ads are viewed to the end nine times more frequently than horizontal ones, it added. That’s because users are watching with their phones in the upright position.

A cada dia, consumimos mais conteúdo e entretenimento em celulares do que em outras telas. Com isso, fica claro que propagandas verticais fazem mais sentido nesses meios, já que por padrão, o uso do smartphone é vertical.

Não eram os usuários que estavam errados ao filmar na vertical, fui eu, como publicitário, que não reparei que eles queriam consumir material vertical. Desde a criação de canais de conteúdos no próprio Snapchat que o aplicativo tenta trazer o mercado nessa direção de mobile vertical. E é incrível essa mudança de paradigma.

“It’s a new medium. It’s not TV and it’s not YouTube, so I don’t see why a new aesthetic for video can’t also emerge.” — Nick Cícero, fundador da Delmondo

Vou além desse comentário do Nick Cícero, talvez seja a hora de repensar a forma de filmar para YouTube, talvez gerando o conteúdo das duas formas. E o próprio YouTube verificar o melhor formato para você. Talvez no futuro trabalharemos com o conceito de vídeos “responsivos”.

Muitas vezes ficamos presos a padrões e verdades absolutas, até mesmo o nosso gosto pessoal e esquecemos de repensar os meios, entender se a regra continua valendo para o jogo. Talvez você não crie vídeos com frequência, mas você deve repensar a forma que está criando conteúdos multi-plataformas, seja um vídeo, site, campanha ou até mesmo banner.

É incrível viver nessa metamorfose digital que se reinventa a cada dia, parar e pensar que um post no Facebook pode ter mais visualizações que um anúncio na Veja. Um vídeo na vertical pode ser mais efetivo que um horizontal. Um podcast pode ter mais audiência que um programa de rádio. E a pergunta que sempre me faço é, qual será a próxima verdade absoluta que irá cair?

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Written by Ruan Teles (Kakate)

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